Fim de ano e solidão: Como lidar com as reflexões que surgem?

Olhando pela janela | Solidão

O fim do ano carrega uma carga emocional intensa. Para alguns, é um momento de celebração e reencontros; para outros, é um período que desperta sentimentos de solidão e melancolia. Essa experiência, mais comum do que se imagina, nos convida a refletir sobre como nossas expectativas e fantasias, muitas vezes enraizadas na infância, influenciam a maneira como vivemos essas ocasiões.

Na psicanálise, a melancolia pode ser entendida como um tipo de tristeza que vai além do que conseguimos explicar com palavras. Ela acontece quando sentimos que perdemos algo importante, mas não sabemos exatamente o quê. Durante as festas, isso pode surgir de uma ausência real, como a perda de um ente querido, ou mesmo de algo mais simbólico, como perceber que os momentos que idealizamos não se concretizam. Por exemplo, ao ver fotos de famílias felizes nas redes sociais, podemos sentir um vazio ao lembrar de brigas ou distâncias emocionais na nossa própria família.

Esse período também costuma reacender fantasias e expectativas criadas ao longo da vida. Para muitos, as festas foram idealizadas como momentos perfeitos de harmonia familiar ou de celebração plena. Quando essas imagens se confrontam com a realidade — marcada por conflitos, ausências ou mesmo uma rotina solitária — pode emergir uma dor que parece difícil de nomear.

Ao invés de buscar soluções rápidas para “superar” esses sentimentos, é importante acolher o que emerge nesse momento. Que relação temos com nossas próprias expectativas? Como as experiências frustradas do passado ainda ecoam nas reuniões e celebrações do presente? Essas perguntas podem abrir espaço para uma compreensão mais profunda, não para apagar os afetos que surgem, mas para transformá-los em algo que favoreça uma vivência mais autônoma e genuína.

Reconhecer que a melancolia não é um “erro” ou algo a ser corrigido, mas uma expressão de algo interno que pede escuta, é um passo essencial. Compreender esses afetos pode permitir que as ocasiões de reunião familiar e social deixem de ser assombradas por lembranças dolorosas de quando éramos mais jovens e se tornem oportunidades de escolha. Seja para se conectar, ou até mesmo para se resguardar, mas sempre com um olhar que privilegie o que faz sentido para si, no momento presente.

Sobre a autora

Jakeline Souza Silva é Psicóloga (CRP 06/140267), e atua em Curitiba com atendimentos tanto na clínica quanto em ambiente corporativo.

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